
Porém, há aqueles que abominam qualquer espécie de repetição, pois acreditam que os atos repetitivos robotizam as pessoas. Basta um simples toque no piloto automático e pronto... lá se vai à vida nos levando. A verdade é que a rotina nos pertence e não podemos extingui-la por completo. Até a natureza que é sábia, nos brinda diariamente com a sua rotina.
Entretanto, o que mais me impressiona na rotina é o fato dela muitas vezes roubar a nossa visão genuína das coisas. E essa cegueira momentânea nos impede de apreciar tantos seres, atributos, paisagens, situações, que a princípio nos pareciam extremamente raros. É a força do hábito. De tanto vermos e repetirmos determinadas cenas, elas acabam perdendo a relevância de antes. São muitos os exemplos que nos cercam: a violência urbana, a pobreza inexorável, o trânsito caótico, com o tempo se tornam parte do nosso cotidiano, obscurecendo a nossa indignação e perplexidade, diante do que antes era inaceitável.
Quando muitos casais são questionados sobre o motivo da sua separação, uma das respostas mais recorrentes é sem dúvida a rotina, que acaba esfriando as relações.
Nas empresas a história não é diferente. A solução daqueles problemas de ordem estrutural, detectados há algum tempo, foi sendo postergada até o ponto de entrar no esquecimento. Muitas coisas são deixadas para amanhã. Redimensionamento de equipes, de produção, criação de um sistema de controle eficaz, alteração no layout, e outras tantas providências não tomadas, acabam por deixar que as empresas recaiam nos mesmos erros que a própria rotina empresarial não permite enxergar. Neste caso vale à máxima que diz que o “santo de casa não faz milagre”. Desse jeito não faz mesmo, porque ele está míope. Chamar alguém de fora para dar uma chacoalhada, nessas horas funciona. A possibilidade de visualizar e corrigir as falhas na estrutura, com isenção dos malefícios que a rotina imputou durante todos estes anos de marasmos, torna-se muito maior, quando se permite este olhar de fora para dentro.
Com isso podemos concluir que em certas circunstâncias a rotina conduz a mesmice, e esta inalterabilidade, não acrescenta nada e nem nos impulsiona a alçarmos vôos mais ousados.
Sendo assim, torna-se imperativo diferenciarmos a rotina que eleva a nossa alma, daquela que nos deixa cegos, sem atitude e sem bengala.
O que você acha disso?