Para que falar de espinhos se há tantas rosas que podem brotar em lugares áridos, como o sertão do Cariri, no Ceará? Essa metáfora serve apenas para iniciar o relato de uma experiência que vivi há poucos dias numa dessas andanças que por força do trabalho, vez por outra tenho o privilégio de realizar.
Com todas as mazelas e catástrofes naturais que o progresso muitas vezes nos deixa como herança, é um alento encontrar a comunidade do Sítio Mocotó, no município de Várzea Alegre-CE, que pelas características locais estaria fadada a ser mais um lugarejo escondido e esquecido no mapa do Brasil, digo estaria, porque graças a presença de pessoas como Dona Rosinha, liderança local, a quem eu rendo as minhas homenagens e admiração, não só por todas as conquistas que ela teve na vida, mas sobretudo pela paixão, sagacidade, brilho nos olhos e um profundo sentimento de pertencer a um grupo e ser peça fundamental no seu desenvolvimento e mudança na forma de agir e proporcionar transformações significativas na comunidade.
Tudo isso seria muito mais fácil, não fosse uma limitação física, atrofia nos membros superiores e inferiores que ela carrega de nascença, mas que tira de letra, como se não fizesse a menor diferença.
Nascida de uma família numerosa, dona Rosinha tem mais duas irmãs com o mesmo problema congênito: a Ceilda e a Cileide, que juntamente com outros membros da família fazem parte de um grupo que trabalha de forma sustentável, em prol do desenvolvimento local através da fabricação de redes de dormir. Já se vão mais de 20 anos de muita luta e realizações, e hoje o grupo, composto por 26 membros, ainda conta com o trabalho de 500 terceirizados, confeccionando em torno de 150 redes por mês, e comercializando para várias partes do Brasil e do exterior. Os excelentes resultados obtidos com o grupo, trouxeram a reboque o progresso para a localidade, através da abertura de escolas, posto de saúde, redução da mortalidade infantil, construção de casas e inúmeros outros benefícios. Para uma comunidade que até a década de 80 amargava a falta de infraestrutura básica, dificuldade de acesso, e a água potável era artigo de luxo, essas transformações a tornaram um exemplo a ser admirado e seguido por aqueles que se sentem carentes de força para lutarem pelos seus ideais.
Saio de lá apaixonada e feliz, ao saber que o mundo ainda é habitado por pessoas como Dona Rosinha, que não obstante as limitações que a vida lhe impôs, ela simplesmente virou as costas para as adversidades e hoje é sinônimo de superação, nobreza de espírito, e consciência do seu papel na sociedade.
Essa é a história de uma bela rosa que brotou no sertão do Cariri...